Advento,
tempo de nevoeiro!
Mensagem
para o Advento
1. Diz-nos um
teólogo jesuíta que o desânimo é como que um nevoeiro cerrado. E uma vez debaixo
do nevoeiro, todo o cuidado é pouco: é preciso andar devagar, estar atento a
todos os sinais e ter a convicção de que estamos na direção certa. E não
adianta protestar: pois só com a paciência de saber esperar o raio de luz no
caminho, se pode ultrapassar esse nevoeiro.
Partindo desta
imagem, o Advento surge para nós como um tempo de nevoeiro. Um tempo cuja única
certeza é a promessa da vinda do Filho de Deus ao mundo, para acabar com todas as nossas dúvidas e restituir-nos a alegria.
Por isso, importa estarmos atentos a
todos os sinais que advêm da Liturgia da Palavra e da iconografia adventícia,
para caminharmos com segurança.
2. Ao olharmos o
plano pastoral da Arquidiocese, que faz a ponte entre a fé professada e a fé
celebrada, notamos como a liturgia oferece estabilidade a este caminho, uma vez
que detém duas finalidades: celebrar a glória de Deus e acolher a sua salvação,
efectivada na noite de Natal.
Nesse sentido, o Papa Francisco, no nº 19 da Lumen Fidei,
não podia ser mais claro: "O início da salvação é a abertura a algo
que nos antecede, a um dom originário que sustenta a vida e a guarda na existência." Logo, "a liturgia não é um tranquilizante que nos permite viver sem
nenhum esforço de conversão individual e
colectiva ou como evasão dos nossos compromissos. Não pode ser uma
rotina que não transforma a vida nem a comunidade cristã. Isto seria empobrecer
e perverter o conteúdo real da ação litúrgica."[1]
3. A vivência deste tempo pode ser
enriquecido com inúmeros subsídios pastorais já disponíveis em diversas
plataformas. E desse modo, gostaria apenas de deixar-vos quatro perguntas, a
reflectir durante este tempo de nevoeiro e de procura (Advento): temos consciência
de que a liturgia é uma ação onde damos glória a Deus e recebemos a sua salvação?
A liturgia nutre a vida da comunidade, que é chamada a crescer na comunhão e na
caridade? Há de facto uma estreita relação entre a celebração e a ação
evangelizadora? Já compreendemos o significado profundo deste tempo do Ano
Litúrgico?
4. Por último, o
maior perigo que a actual crise nos pode causar, mais do que o empobrecimento e
o medo, é destruir-nos a esperança. Sem fé não há esperança! E sem esperança, o
Advento será somente mais um tempo de nevoeiro sem rumo no caminho. Precisamos
talvez de deixar que a fé nos transforme, de cultivar um estilo de vida paciente
e de participar na liturgia com um outro sabor. Só assim é que a fé celebrada
será uma autêntica luz que fará do Advento um tempo de esperança e de alegria!
É verdade que a sociedade educou-nos para ter tudo
sob controlo, mas por vezes há nevoeiros na vida pessoal e social que surgem
inesperadamente. Só que a cada imprevisto, Deus responde sempre com uma
surpresa, porque a Ele “nada é impossível”! E há um caminho que nunca devemos
ignorar neste tempo de crise: o caminho
da fraternidade, pois é no rosto do outro que Deus vem ao nosso encontro,
nomeadamente nos mais carenciados e desprotegidos.
Na certeza de que Deus nunca falha nas suas
promessas, desejo uma boa caminhada de Advento para todos vós, convictos
de que, a este tempo de nevoeiro, virá um dia de sol radioso (Natal)!
† Jorge Ortiga, A.P.
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